Amigos virtuais: solidão só quando acaba a bateria

 

A ideia de que ninguém vive sozinho existe desde os tempos bíblicos. Mas será que é possível construir conexões verdadeiras no mundo virtual? Se hoje passamos boa parte das nossas vidas no mundo digital, será que os amigos virtuais podem contribuir pra que a gente se sinta menos sozinho na vida real?

Os estudos indicam que sim. Os amigos virtuais podem se tornar grandes amigos dentro e fora das redes. Ou seja, o sentimento de amizade presente nos relacionamentos não é exclusivo do mundo offline. Entretanto, é necessária uma visão mais aprofundada e um pouco de cautela em relação às amizades construídas online.

Pra mergulharmos nesse tema, primeiro vamos buscar entender melhor o significado do sentimento de solidão e o que é uma relação de amizade. Depois, vamos olhar pros riscos e benefícios trazidos pelos amigos virtuais, especialmente na terceira idade. Por fim, vamos entender quais são as melhores opções para escolhermos os amigos virtuais.

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Amigos virtuais e a solidão

Segundo o portal de saúde Minha Vida, a solidão é o sentimento de não pertencer ao mundo que nos cerca. Não conseguimos criar vínculos ou nos identificar com os outros. Entre as causas da solidão, estão a dificuldade para se relacionar com outras pessoas, medo de ser julgado e o vazio existencial.

Verdade seja dita, são incontáveis os momentos onde nos sentimos desconectados de tudo que nos cerca e solitários em meio a multidão. Quando sentimos que ninguém pode nos entender e que não é possível conectar-se com as pessoas, estamos diante da solidão. Em alguns casos a solidão pode acontecer por opção, o que configura um quadro de solitude. Porém, quando este sentimento se torna inerente a nossa existência e nos sentimos constantemente desamparados, trata-se de solidão.

De acordo com dados de pesquisa realizada pelo Cigna, uma organização americana de serviços de saúde, indivíduos com 18 a 22 anos de idade são os que mais sofrem com a solidão. E sabe qual é uma das dicas pra lidar com a solidão? Buscar amigos, sejam eles do mundo real ou virtual. Os psicólogos afirmam que aprofundar-se nas relações pode ser um excelente antídoto para a depressão e a sensação de solidão.

Mas o que é uma relação entre amigos (virtuais ou não)?

Você já parou pra pensar no que significa ser amigo de alguém? É um conceito complexo que envolve afeto, atenção, cuidado e carinho. Segundo o site Psicanálise Clínica, algumas características são apontadas pelos psicanalistas como necessárias em uma relação de amizade verdadeira, seja ela virtual ou não:

  • Respeito pelo outro, suas crenças e pensamentos
  • Confiança na pessoa e nas atitudes dela para com você
  • Aceitar o outro como ele é, apesar dos seus defeitos
  • Compreender o outro e as diferenças existentes entre vocês
  • Disponibilidade para ajudar sempre que possível
  • Intimidade para dialogar sem medo de julgamentos e culpa
  • Apoiar o outro para que o mesmo possa se tornar alguém melhor a cada dia

Além disso, é crucial lembrar que uma amizade é uma relação construída ao longo do tempo. Portanto, com o passar dos anos uma relação de amigos reais ou virtuais pode mudar de intensidade e de características, assim como as pessoas evoluem e se tornam distintas nos diferentes momentos de suas vidas.

As vantagens das amizades virtuais

A cada dia, mais pessoas utilizam meios virtuais para conversar com amigos ou conhecer novos indivíduos. A comunicação pela internet é simples e fácil. Para falar com os seus amigos virtuais, não é preciso marcar um local ou horário. Basta um telefone celular e uma conexão. Você não precisa ficar com medo de falar algo errado, pois sempre há como editar ou até mesmo excluir as suas publicações.

A possibilidade de construir relacionamentos consistentes em um ambiente virtual facilita as coisas para quem não tem desinibição e carisma. Fica mais fácil vencer a timidez na frente da tela do celular ou do computador. Entretanto, os amigos virtuais também vêm acompanhados de alguns perigos.

A importância da escolha dos amigos virtuais

Grande parte das amizades online nascem a partir de interesses em comum. Ou seja, você geralmente passa o tempo interagindo virtualmente com aqueles que são parecidos com você. Entretanto, relacionar-se apenas ou preferencialmente com aqueles que são semelhantes é uma forma de autoproteção. Ou seja, de manter-se dentro da sua bolha de segurança. Ao mesmo tempo, o mundo virtual facilita o afastamento daqueles que não compartilham dos mesmos gostos, pensamentos e convicções.

Porém, a decisão de se fechar num grupo onde apenas pensamentos parecidos são compartilhados e que não envolve divergências e conflitos pode ser prejudicial. Isso porque as pessoas envolvidas nessa amizade podem estar perdendo uma chance preciosa de crescimento e aprendizado. Conviver com pessoas e pensamentos diferentes leva o individuo a se questionar mais, pensar mais e, consequentemente, se tornar mais maduro e resiliente.

Os riscos do excesso nas amizades virtuais

No mundo virtual, você pode passar a imagem que gostaria de ter, independentemente de ela ser uma representação fiel da realidade. O problema nisso é que muitos acabam dedicando dezenas de horas à construção do que consideram um perfil adequado. Selecionam apenas as fotografias que julgam conter os seus melhores ângulos. Além disso, escrevem apenas frases que transmitem um pouco da “pessoa ideal”, aquela sem qualquer tipo de falhas – a que todos gostariam de ser.

O risco aqui é quando as pessoas passam a “colecionar” amigos nas redes sociais, substituindo uma boa conversa pessoal por uma mera conexão. A cada dia a “qualidade” é trocada pela “quantidade” e a definição de “relacionamento” passa a ser representada pela troca de imagens e algumas poucas linhas de texto em um chat online.

Amigos virtuais na terceira idade

Agora que já sabemos quais são os perigos e riscos das amizades construídas no ambiente online, vamos olhar como os amigos virtuais podem ajudar os idosos. Sim, a interação social por meio do celular ou computador pode diminuir a solidão e evitar a depressão na terceira idade.

O uso de ferramentas tecnológicas como smartphone, tablet ou computador tem sido um grande aliado dos idosos no combate ao isolamento social. Além de manterem os idosos mais próximos de amigos e familiares distantes, as novas tecnologias digitais também ajudam a manter a mente do público 60+ ativa, o que contribui positivamente para a autonomia física e mental dessas pessoas.

Conforme os idosos se familiarizam com a internet e as redes sociais, eles se tornam mais independentes e motivados. Isso acontece porque, mesmo nos casos em que existem limitações físicas ou de locomoção, na web eles são capazes de conhecer novas pessoas e buscar por determinados assuntos sozinhos, sem a ajuda de outras pessoas.

Amigos virtuais na medida fazem bem à saúde

Mais resistência ao frio, menos vulnerabilidade a vírus, maior capacidade de recuperação, menor sensibilidade a dor e manutenção da saúde mental na terceira idade. Apesar de recentes, os estudos sobre os efeitos das amizades na saúde já concluíram que esses são alguns dos benefícios decorrentes da convivência frequente com gente querida.

Compartilhamos nossas experiências emocionais com os amigos e eles são um forte apoio nos momentos difíceis. Esse apoio está na raiz de tudo de bom que a amizade tem para oferecer à saúde.

Karen Roberto, diretora do Centro de Gerontologia da Universidade de Virginia Tech, nos EUA, afirma que os benefícios desses relacionamentos, além de numerosos, são duradouros. Em sua pesquisa sobre a influência das redes sociais na saúde de mulheres idosas, ela constatou que as oportunidades para troca de intimidade, sustentação emocional e compreensão oferecidas pelos amigos refletiam num quadro de saúde positivo. O contato com os amigos ajuda a combater a solidão e o isolamento social, comuns entre pessoas com problemas de saúde crônicos.

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Gabriele Assif Kassel
Gabriele Assif Kassel
Gabriele Kassel é uma escritora freelancer de tecnologia e estilo de vida que mora em São Paulo. Com formação em ciência da computação, se especializou em escrever sobre tecnologia para grandes empresas, além de ter colaborado com publicações como Wired, Fast Company e Forbes.
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